O Transtorno do Espectro Autista é um transtorno do neurodesenvolvimento que impacta o funcionamento das pessoas no espectro em diferentes esferas. Os déficits envolvem prejuízos de comunicação, interação social, dificuldade de compreender nuances sociais, prejuízos na teoria da mente e comportamento restritivo.
Diferentes alterações cerebrais são relatadas na literatura, incluindo alterações eletroencefalográficas. O neurofeedback tem sido investigado como uma intervenção complementar, com resultados promissores.
Um dos primeiros estudos indexados na base de dados Pubmed é o estudo dos Thompson, Thompson e Reid (2010) em que relatam melhoras cognitivas e comportamentais em 159 participantes após a aplicação de um protocolo de neurofeedback com base na frequência de onda, reforçando o ritmo sensório-motor (12-15 Hz ou 13-16Hz) em Cz (crianças) ou FCz (adultos), e inibindo atividade lenta (3-7Hz) e fusos de beta (quando presente). Uma das maiores limitações desse estudo é ser um estudo retrospectivo, de sessões realizadas na clínica e clínicas parceiras (e não um ensaio clínico planejado).
O estudo de Pineda e colaboradores, publicado em 2014, abriu uma linha de investigação que envolve a modulação do ritmo mü através do neurofeedback. O ritmo mü tem uma morfologia específica, e varia entre 8-12 Hz (mesma frequência de alfa), na região sensório motora.
Apesar de outros pesquisadores argumentarem a dificuldade em saber se está sendo treinado mü ou alfa, esse artigo demonstrou que 30 h de treinamento para aumentar 8-12 Hz em C4 foi associado à inibição em repouso dessa atividade após o treino, quando os participantes se movimentavam ou visualizavam movimentação motora, indicando modulação dos neurônios espelhos. Em 2014, o artigo de Friedrich utilizando neurofeedback bidirecional (reforço e inibição do ritmo mü) mostrou ganhos maiores do que apenas com o treino unidirecional. Mais recentemente LaMarca e colaboradores reportaram em uma série de casos que nem todas as crianças conseguem modular adequadamente o ritmo mü. Em uma amostra de 7 criancas com autismo e deficiência intelectual, 3 delas não conseguiram aprender a autorregulação.
O uso do protocolo para inibição da razão T/B também tem sido investigado. Esse protocolo é muito utilizado em crianças com queixas atencionais, especialmente aquelas com diagnóstico de TDAH. No estudo de Mekkawi (2021) a inibição da razão T/B através do treino com neurofeedback levou à melhora cognitiva em funções atencionais e flexibilidade, além de melhora na interação social.
Outras técnicas também têm sido exploradas: Um estudo com potencial cortical lento (SCP, Klöbl et al., 2023) não encontrou diferenças entre o grupo que treinou com aquele que recebeu tratamento usual. Já a pesquisa de Saleem e Habib com 35 crianças observou uma redução significativa na atividade do EEG em todas as frequências.
Referencias:
Thompson, L., Thompson, M., & Reid, A. (2010). Neurofeedback outcomes in clients with Asperger’s syndrome. Applied psychophysiology and biofeedback, 35, 63-81.
Pineda, J. A., Carrasco, K., Datko, M., Pillen, S., & Schalles, M. (2014). Neurofeedback training produces normalization in behavioural and electrophysiological measures of high-functioning autism. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 369(1644), 20130183.
Friedrich, E. V., Sivanathan, A., Lim, T., Suttie, N., Louchart, S., Pillen, S., & Pineda, J. A. (2015). An effective neurofeedback intervention to improve social interactions in children with autism spectrum disorder. Journal of autism and developmental disorders, 45, 4084-4100.
LaMarca, K., Gevirtz, R., Lincoln, A. J., & Pineda, J. A. (2023). Brain–Computer Interface Training of mu EEG Rhythms in Intellectually Impaired Children with Autism: A Feasibility Case Series. Applied Psychophysiology and Biofeedback, 48(2), 229-245.
Saleem, S., & Habib, S. H. (2024). Effect of Infra Low Frequency (ILF) neurofeedback training on EEG in children with autism spectrum disorders. Pakistan Journal of Medical Sciences, 40(7), 1397.
Mekkawy, L. (2021). Efficacy of neurofeedback as a treatment modality for children in the autistic spectrum. Bulletin of the National Research Centre, 45, 1-7.
Comments