A TEORIA DOS CIRCUITOS
Para ampla adoção de um tratamento, não basta que ele seja eficaz. É preciso que seja também compreendido tanto por médicos como pacientes.
Parte da popularização dos antidepressivos pode ser devida ao sucesso da "teoria química" que se propagou com seu uso. Pacientes e médicos se referiam à depressão como uma "deficiência de serotonina, dopamina ou noradrenalina" que medicamentos poderiam corrigir.
O mecanismo de ação da EMTr também pode ser explicado em termos acessíveis, com a vantagem de que a explicação vem de exames de Ressonância Funcional feitos em pacientes reais! Para isso sugerimos que apresentem a explicação como um desequilíbrio na atividade de circuitos de regulação do humor, a "Teoria dos circuitos".
A TEORIA DOS CIRCUITOS NA DEPRESSÃO
"Baixa conectividade entre o córtex frontal lateral e o medial"
O modo mais simples de apresentar a teoria dos circuitos na depressão é situar aquilo que você percebe (cognição) na convexidade frontal e aquilo que você sente (emoções) nas regiões límbicas (situadas medialmente e na profundidade do frontal).
Pode-se dizer que na depressão há uma "inversão de comando": a convexidade frontal se torna hipoativa, perde o comando sobre o sistema límbico e passa a ter sua função alterada por ser hiperreativa aos sinais que vem do sistema límbico.
Fig 1. Hipoatividade na convexidade (azul) e Hiperatividade em córtex límbico (vermelho).
Dito de outra maneira:
"Na depressão, ao invés daquilo que você percebe como alegre ou triste produzir uma emoção alegre ou triste, aquilo que você sente distorce o que você percebe e tudo passa a ser sombrio."
COMO A ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA CORRIGE ESSE DESEQUILÍBRIO
"A EMT é fisiológica e focal: Age pelos mesmos mecanismos de aprendizado e memória e apenas no córtex frontal lateral "
Tudo que aprendemos ou memorizamos começa com estímulos elétricos. Quando repetidamente fazemos uma atividade ou evocamos uma lembrança, sinapses são ativadas por estímulos elétricos e a cada repetição são reforçadas. Memórias são sinapses reforçadas.
O reforço ocorre porque a repetição dos estímulos elétricos desencadeia uma sequência de eventos nos neurônios que já estão bem mapeados.
A EMT repetitiva age por esses mesmos mecanismos, ativando as conexões entre a convexidade frontal e o sistema límbico que estavam enfraquecidas devido à depressão. De uma certa maneira, pode-se dizer que o cérebro havia "aprendido a depressão" e a EMTr age revertendo esse aprendizado disfuncional.
Fig 2. A memória nos neurônios. A sequência de eventos celulares desencadeadas pela estimulação elétrica repetitiva já é bem conhecida.
Na fase que pode ser transitória, o que fortalece as sinapses é a concentração de substâncias químicas (como o cálcio e a calmodulina). Se o estímulo persiste, vem a fase em que aumenta a expressão de proteínas receptoras (como os receptores AMPA de glutamato). Em uma fase mais tardia, que chamamos de epigenética, sinais são enviados ao núcleo do neurônio que leva a produção de fatores de crescimento de novas sinapses e expressão de substâncias como a PKM zeta, que torna os receptores AMPA mais ativos de maneira permanente.
Referências: 1. Strakowski SM, Adler CM, Almeida J, Altshuler LL, Blumberg HP, Chang KD, DelBello MP, Frangou S, McIntosh A, Phillips ML, Sussman JE, Townsend JD. The functional neuroanatomy of bipolar disorder: a consensus model. Bipolar Disord.2012 Jun;14(4):313-25. 2. Maletic V, Raison C. Integrated neurobiology of bipolar disorder. Front Psychiatry. 2014 Aug 25;5:98. 3. Drevets WC, Savitz J, Trimble M. The subgenual anterior cingulate cortex in mood disorders. CNS Spectr. 2008 Aug;13(8):663-81.
Comments